O país precisa democratizar a TV


Os brasileiros acordam eufóricos. Afinal, neste domingo tem jogo importante da seleção. O Brasil precisa desta vitória para se classificar para Copa. A partida é fora de casa, mas todo mundo está achando que vai dar certo. Momentos antes do apito inicial, o país se ajeita para assistir a telinha. A divisão é organizada. O “fulano” assa a carne. O “ciclano” corre atrás das cadeiras e arma a “vaquinha” pra comprar a bebida. O “beltrano”, junto com mais dois ajudantes, são os responsáveis por arrumar as cadeiras e colocar a monitor num ponto estratégico.

O apoio da TV vira uma “táuba” sustentada por seis engradados de tubaínas de cada lado. Assim, quanto mais alto, melhor para se “exergá”. A marca não interessa muito, o importante é “funcioná”. A antena são dois pedaços de cabo duro e levemente pesados, daqueles que sobram das, reconhecidas, redes elétrica sociais, popularmente denominadas como “gatos”. Foi adaptada na hora. Alguém, se dizendo “intendido” da coisa toda, quase um “ténico”, saiu correndo até em casa e pegou os fios que estavam dentro da maleta de “mile uma utilidades”. Orgulhoso, ainda se “gaba” pelo diferencial da antena. “Essa aqui é di rico. Na ponta eu coloquei palha de aço, pra melhorá o chiasso”.

Agora, pronto! Tudo está devidamente ajustado para os telespectadores. É só ligar o aparelho na tomada e torcer. Dependendo do resultado, acordamos no dia seguinte classificados. No fim, poucos realmente se importam com o placar final. O que valeu mesmo foi a festa. Terminado tudo, alguns arrumam a bagunça. Uns varrem daqui, outros lavam ali e o “beltrano” (lembra dele?) pega e leva embora o objeto que foi neste dia o centro das atenções, a verdadeira TV PÚBLICA.

Usar esta curta história para fazer uma analogia com esta proposta social de TV, pode parecer infundada. Porém, o conceito de uma confraternização popular, onde as pessoas se reúnem e assistem um conteúdo, pelo menos, democrático, com poder de diversificar as opiniões, é bastante similar ao que propõem uma TV PÚBLICA. A televisão voltada a serviço da sociedade, valorizando o cidadão e não somente o consumidor, livre do peso político, transmitindo esporte, educação e cultura, são objetivos que contrapõem e muito, com o que acontece atualmente nas TV`s brasileiras.

A opção no Brasil pela liberação da exploração privada dos canais de TV, através de concessão, ainda nos anos 50, sem uma objetiva e clara política visando o trabalho igualitário, comprometeu a sobrevivência e até mesmo a abertura, dos canais de conceito mais social, como os educativos, por exemplo. Além disso, o surgimento de novos canais, somado a chegada também da TV por assinatura, isto é, os canais fechados, alimentaram ainda mais a concorrência entre as emissoras. O resultado é uma programação “perdida”, transmitindo a banalização da violência e do sexo, praticamente sem censura de horário, expondo discriminação e preconceito, esquecendo valores educacionais, culturais e éticos.


Atualmente cerca de 40 milhões dos lares brasileiros, possuem, pelo menos, uma televisão. Somente esta quantidade, já demonstra o maior poder de impacto da TV, em relação aos outros veículos de mídia. Hoje, no Brasil, é importante abrir as oportunidades de se ouvir e ver mais, além de propiciar diferentes modelos e formatos para as programações. Os debates sobre a TV PÚBLICA têm promovido discussões importantes e elevado à necessidade rápida de mudança. Cabe dar continuidade neste processo de transformação, cobrando atuação permanente dos governos, assim também como a participação pública.

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